Café amargo


- Acabou o café amargo – disse o colega à copeira.
A frase fez bastante sentido, numa época em que os acontecimentos confirmam, cada vez mais, a frase de Umberto Eco: “As redes sociais deram voz aos imbecis”. 

Por toda a rede pipocaram fotos da passagem da Tocha Olímpica pelas cidades brasileiras. O cidadão, ao invés de celebrar o símbolo – que tem objetivo e congregar as nações – semeia discórdia e críticas infundadas.

“Dizem que a cidade pagou 180 mil para receber a Tocha”, “bando de vagabundos que ficam seguindo uma Tocha, enfia no...”, e por aí vão as pérolas que se pode observar em comentários publicados país afora.

A cidade não paga para receber a Tocha, pelo contrário, melhora os locais por onde ela vai passar. Essa melhoria acaba ficando para as pessoas, no final. E depois, se não há concordância quanto ao uso do dinheiro público, então deveria haver mais participação no orçamento municipal, coisa que a gente não tem demonstrado muito interesse...

Outro dia, o Estadão publicou uma matéria sensacional sobre o efeito causado pelo viral que circulou na internet, de artistas, ricos e famosos virando um balde de água gelada na cabeça. O valor arrecadado por esta campanha patrocinou seis pesquisas que, ao final, identificaram o gene que causa a esclerose lateral amiotrófica, da qual sofre o físico inglês Stephen Hawking e muitas outras pessoas por este mundão.

Os comentários à matéria foram ácidos. Houve críticas à demora para publicação (não entenderam que a reportagem é baseada em uma pesquisa atual, apesar de o viral ter acontecido em 2013), chamaram o viral de babaquice de celebridades e outras coisas do gênero.

Falta muito leitura, interpretação e compreensão de texto. Infelizmente, Umberto Eco tinha razão: esses comentários precisam continuar na mesa de bar, porque cada vez que são publicados nas redes sociais acendem uma chama e despertam uma discussão apaixonada que só afasta as pessoas.

Acabou o café amargo. Aparentemente, é este o café que todo mundo tem bebido ultimamente.

Crédito:
"Grão de café"
Reprodução internet

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