Quem vê um palhaço, geralmente, ri ou se assusta. É sempre assim. Não tem quem fique indiferente àquela figura colorida, exagerada, despojada. Ele está ali para fazer o outro rir e se divertir.
Ou não.
Estava na fila do circo Las Vegas, em Taubaté. O cartaz anunciava “últimas semanas”, já se despedindo da cidade onde a atração mambembe se instalara havia um mês. Em consequência disso, o preço também ficou acessível: dez reais por pessoa, preço único. Uma pechincha.
A fila estava longa, e apesar de inverno, a noite não estava tão fria. Chegou a vez de ser atendido.
- A fileira central custa quinze reais.
- Mas o anúncio diz dez.
- Dez é para as cadeiras laterais.
As cadeiras laterais não são tão ruins assim. Você consegue ver o espetáculo. A única coisa é que o palhaço não fica olhando para você.
Como tinha duas cortesias para a fileira central, pagou o ingresso de quinze. Deu uma nota de cinquenta e recebeu o troco, vinte e cinco.
Entrou no circo com uma interrogação na cabeça. Afinal, não deveria ser trinta e cinco o troco? Tentou voltar ao caixa, mas foi barrado na entrada.
- Não, não tem nada errado com o troco, vocês entraram em três pessoas.
- Mas só comprei um ingresso. Os outros eram cortesia.
Com insistência, foi autorizado a voltar ao caixa. Quando reclamou, o caixa sequer questionou: simplesmente deu os dez reais que faltavam.
Ao retornar, passou pela entrada, quando ouviu uma mãe reclamando:
- O troco está errado, está faltando dinheiro aqui!
Silenciou, na tentativa de aproveitar a noite com a família. Os trapezistas preencheram um pouco essa alegria, especialmente, no brilho do olhar da criança, que se impressionava a cada giro.
Hora do intervalo. Praça de alimentação. Tíquetes a cinco reais.
- Me vê três tíquetes.
- Eu não tenho troco, posso dar quatro por vinte?
Naquela hora, percebeu o que estava acontecendo: o circo todo iluminado, o picadeiro cercado, com o público a rir, e o palhaço estava ali, no meio da praça de alimentação.
O palhaço estava ali, sendo feito de otário quando o troco estava aparentemente errado.
O palhaço estava ali, quando, na falta de troco, teve que comprar um tíquete a mais.
O palhaço era aquele que acreditou que o preço era, de fato, único, e poderia entrar ao custo de dez reais.
Quem vê o palhaço, geralmente ri ou se assusta. Mas nunca pensa que ele mesmo é que está sendo feito de palhaço.
#circolasvegas #taubaté #palhaço #procon
Dedico esse texto a um professor de técnica de jornalismo, que infelizmente não consigo lembrar o nome, porque só tive aula durante um semestre com ele, em 2000. Na época, escrevi um texto sobre o circo de Jacareí, e ele criticou, dizendo que estava muito direto, precisava de mais poesia. Espero ter conseguido, 16 anos depois!
Crédito:
"O palhaço do mal"
https://image.freepik.com/vetores-gratis/free-personagem-palhaco-mal_52638.jpg
Ou não.
Estava na fila do circo Las Vegas, em Taubaté. O cartaz anunciava “últimas semanas”, já se despedindo da cidade onde a atração mambembe se instalara havia um mês. Em consequência disso, o preço também ficou acessível: dez reais por pessoa, preço único. Uma pechincha.
A fila estava longa, e apesar de inverno, a noite não estava tão fria. Chegou a vez de ser atendido.
- A fileira central custa quinze reais.
- Mas o anúncio diz dez.
- Dez é para as cadeiras laterais.
As cadeiras laterais não são tão ruins assim. Você consegue ver o espetáculo. A única coisa é que o palhaço não fica olhando para você.
Como tinha duas cortesias para a fileira central, pagou o ingresso de quinze. Deu uma nota de cinquenta e recebeu o troco, vinte e cinco.
Entrou no circo com uma interrogação na cabeça. Afinal, não deveria ser trinta e cinco o troco? Tentou voltar ao caixa, mas foi barrado na entrada.
- Não, não tem nada errado com o troco, vocês entraram em três pessoas.
- Mas só comprei um ingresso. Os outros eram cortesia.
Com insistência, foi autorizado a voltar ao caixa. Quando reclamou, o caixa sequer questionou: simplesmente deu os dez reais que faltavam.
Ao retornar, passou pela entrada, quando ouviu uma mãe reclamando:
- O troco está errado, está faltando dinheiro aqui!
Silenciou, na tentativa de aproveitar a noite com a família. Os trapezistas preencheram um pouco essa alegria, especialmente, no brilho do olhar da criança, que se impressionava a cada giro.
Hora do intervalo. Praça de alimentação. Tíquetes a cinco reais.
- Me vê três tíquetes.
- Eu não tenho troco, posso dar quatro por vinte?
Naquela hora, percebeu o que estava acontecendo: o circo todo iluminado, o picadeiro cercado, com o público a rir, e o palhaço estava ali, no meio da praça de alimentação.
O palhaço estava ali, sendo feito de otário quando o troco estava aparentemente errado.
O palhaço estava ali, quando, na falta de troco, teve que comprar um tíquete a mais.
O palhaço era aquele que acreditou que o preço era, de fato, único, e poderia entrar ao custo de dez reais.
Quem vê o palhaço, geralmente ri ou se assusta. Mas nunca pensa que ele mesmo é que está sendo feito de palhaço.
#circolasvegas #taubaté #palhaço #procon
Dedico esse texto a um professor de técnica de jornalismo, que infelizmente não consigo lembrar o nome, porque só tive aula durante um semestre com ele, em 2000. Na época, escrevi um texto sobre o circo de Jacareí, e ele criticou, dizendo que estava muito direto, precisava de mais poesia. Espero ter conseguido, 16 anos depois!
Crédito:
"O palhaço do mal"
https://image.freepik.com/vetores-gratis/free-personagem-palhaco-mal_52638.jpg
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