Vizinhos são
aquelas pessoas que, assim como a família, você tem que aprender a conviver.
Pronto. Algumas pessoas amam os vizinhos, outras odeiam. A não ser que você
more num sítio, numa casa distante a quilômetros da casa mais próxima, a
dedução é bem comum para você.
Alguns vizinhos
são cômicos. Outros são indiferentes. Outros são sinistros.
Morei em um prédio
em que um dos vizinhos mantinha fechadas as cortinas do apartamento dele.
Comum, certo? Seria, não fosse um detalhe: as cortinas eram de um tecido grosso
de veludo, na cor bordô. Em um desses dias de verão do Brasil, não conseguíamos
imaginar como um ser humano conseguia viver dentro de um apartamento com
aquelas cortinas grossas fechadas. E não havia sinais de ar-condicionado.
Apelidamos ele de maníaco da cortina.
Em outro endereço,
havia um vizinho que não arrumava a cama. Como morávamos em um andar acima, era
inevitável olhar pela janela e ver a cena. Lençol solto, amassado, cobertor,
travesseiro e roupas jogadas dia após dia. Situação comum para algumas pessoas,
mas um incômodo para quem sofre de transtorno obsessivo compulsivo e não
consegue conviver com essa bagunça. Qualquer dia vou bater lá e me oferecer
para esticar o lençol. A vista da janela, pelo menos, ficará mais agradável.
Existem, ainda, os
vizinhos sem noção. Outro dia, minha mulher foi chamar a filha pela janela e
deu de cara com – esse apelido ficou engraçado – o peladão do 21. O cara estava
dentro da casa dele, tudo bem, mas totalmente pelado e parado em frente à
janela, com as cortinas abertas. Não bastasse, quando ele notou que alguém
estava olhando, deitou na cama e ficou peladamente exposto para quem quisesse
ver. Voyeranismo? Doença?
Tentamos conversar
com o síndico, para ver o que poderia ser feito, afinal, ninguém está a fim de
ver as vergonhas alheias quando vai chamar um filho pela janela. Mas
aparentemente não há crime algum quando alguém está pelado dentro de casa,
então, só nos resta desviar o olhar.
Há também aqueles
vizinhos doces, que a gente carrega no coração. Quanto mais velho a gente fica,
mais compreende.
Dona Elvira morava
sozinha na casa dela, e as crianças viviam chutando bola na porta da casa
daquela velha. Ela saía, resmungava, olhava feio, e os meninos a chamavam de
bruxa.
Quando alguém em
casa ficou doente, fui bater à porta de Dona Elvira, muito contrariado e obrigado por
minha mãe, buscar ervas para fazer chá. Ela me recebeu e pediu para entrar. Impecável, o ambiente tinha cheiro de café. Num corredor lateral, aberto, havia uma
horta com vegetais, flores e plantas medicinais religiosamente cuidados. Ela
tirou algumas folhas de boldo, melissa e capim-cidreira e explicou o que fazer
com cada um deles.
Muito tempo
depois, quando voltei àquela rua, soube que ela tinha morrido ali, sozinha. Por
um momento, me arrependi por aquelas brincadeiras maldosas com as crianças,
zoando a Dona Elvira. No fim das contas, aos olhos dela, eu era o vizinho mal
criado, uma criança estúpida que tirava seu sossego.
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